CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA MEIO AMBIENTE!


"A GUERRA AOS CANUDOS"
"Depois que o vídeo de uma tartaruga sufocada por um cilindro de plástico viralizou na internet, ganhou força a grita contra um símbolo do nosso tempo"


Por: André Lopes
        Tatiana Babadobulos

"Quando se pede bebida em um fast-food, é comum ela ser servida com um canudo de plástico embalado em papel - ou mesmo em plástico! O costume surgiu nos Estados Unidos dos idos de 1960 e se popularizou ao redor do planeta. Contudo, nos últimos três anos essa tradição tem sido questionada, em razão da crescente conscientização em torno dos impactos ambientais da fabricação dos aparentemente inocentes canudinhos. Em alguns lugares, especialmente nas regiões do mundo em que as preocupações conservacionistas são mais agudas, eles começam a ser abolidos.
No Estado da Califórnia, por exemplo, há um projeto de lei, com alta probabilidade de aprovação, que propõe punição, com multa de 1 000 dólares e até seis meses de prisão, a donos e funcionários de estabelecimentos que oferecem o canudinho aos clientes sem perguntar se eles querem. O banimento vem se espalhando gradualmente nos Estados Unidos, com adesão de restaurantes em metrópoles como Nova York. Na Inglaterra, a rainha Elizabeth II comoveu-se com o documentário Blue Planet 2 (Planeta Azul 2), lançado pela BBC no ano passado, que trata do impacto que a poluição dos mares pelo descarte de materiais plásticos provoca nos animais marinhos. Ela decidiu proibir o uso dessas mercadorias nas propriedades da família real e sugeriu que gostaria que a medida fosse replicada em todo o Reino Unido. No Brasil, o grito também já começa a ecoar."


"A guerra contra os canudos teve início espalhafatoso em 2015, quando se difundiu pela internet (e onde mais poderia ser?) um vídeo no qual dois pesquisadores retiravam cilindros plásticos da narina de uma tartaruga marinha, no litoral da Costa Rica. A operação, de improviso, realizado com um alicate, durou quase dez minutos e levou o animal a desesperadora agonia. A comovente gravação viralizou e chamou atenção para o problema. Mais da metade das tartarugas marinhas morre asfixiada pela ingestão de alguma forma de lixo, em especial constituído de insumos plásticos, que correspondem a 90% dos detritos despejados nos oceanos. Apesar da sua fabricação demandar apenas 4% do plástico produzido no planeta, os canudinhos figuram entre os dez resíduos mais achados em praias e mares."


"Eles são um grande inimigo da natureza por várias razões. A principal delas é que, mesmo que a vida útil de cada um deles seja de dez minutos - o tempo que se gasta para tomar um refrigerante -, os cilindros de plástico levam 500 anos para se decompor. Por isso, desde que a produção em larga escala teve início, nos anos 60, estima-se que vaguem por aí, como detritos, 8,3 trilhões de toneladas de objetos feitos de plástico. Além disso, a indústria do poliestireno colabora para o agravamento do aquecimento global, pela emissão gás carbono (CO2) na atmosfera, polui ecossistemas e ameaça a sobrevivência de animais em risco de extinção, como algumas espécies de tartarugas marinhas.
Diante dos dados alarmantes, iniciou-se o movimento de extinção dos canudos. Convenhamos, substituí-los não é tão fácil. A alternativa mais simples é tomar direto no copo. Para quem gosta da prática, por receio de beber de latas infectados ou copos mal lavados, também há substituições possíveis. Nos EUA, tem se tornado comum pessoas carregarem consigo versões reutilizáveis, feitas de inox ou silicone. Medida essa que começou a se disseminar por outras nações, como o Brasil. Baseada no Rio de Janeiro, a fabricante Mentah! é uma das pioneiras, em âmbito nacional, na venda exclusiva de modelos reutilizáveis produzidos com vidro - de sua fábrica, saem 3 000 unidades por mês. Outro bom exemplo é a rede espanhola de hotéis Iberostar. No ano passado, a multinacional baniu os canudos das 110 filiais que possui pelo mundo, incluindo duas na Praia do Forte, na Bahia."


"Defende a antropóloga franco-marroquina Mounia El Kotni, uma das fundadoras do movimento francês Bas les Pailles (Abaixo os Canudos): 'É preciso engajar as pessoas nessa etapa. Temos nos manifestado, com protestos deflagrados em setenta cidades de trinta países'. Entretanto, se é tão fácil substituir os canudos plásticos, quais são os impedimentos para que isso ocorra de vez? Há dois: um econômico e um cultural. O mercado de canudos comercializa, só nos EUA, 500 milhões de exemplares ao dia. No Brasil, não há dados tão precisos, mas o IBGE divulga que a produção foi de 2 800 toneladas em 2015. Esses números grandiosos resultam em lucro e empregos. Já do ponto de vista dos costumes, o canudinho se tornou um item do dia a dia. O primeiro modelo popular data de 1888, inventado pelo americano Marvin  Stone, e era feito de papel, também danoso à natureza. Com a explosão das lanchonetes nos EUA, iniciou-se a venda das versões de plástico, porque os papéis eram considerados frágeis. E o canudo rapidamente virou unanimidade mundial - do milk-shake à caipirinha, da Coca-Cola ao suco de laranja. O fato é que o canudo, tão simpático, com seu ar infantojuvenil, está deixando de combinar com outro hábito mais moderno e inteligente: o de viver de forma sustentável."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2571 - Ano 51 - nº 1. 28 de fevereiro de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e à Editora Abril.


SUGESTÃO

Após a leitura, separamos o polêmico vídeo impressionante da retirada do canudo de plástico do nariz da tartaruga, citado na matéria. As imagens podem ser fortes para algumas pessoas, por isso, se você não gosta de vê sangue ou vídeos de animais sangrando, não recomendamos assisti-lo. Mas se não se importar, você poderá vê-lo. As imagens são do YouTube.


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