CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA CONFLITO INTERNACIONAL!


"TERRORISMO EM CASAL"
"Um americano e sua esposa paquistanesa chacinam catorze pessoas em uma festa de Natal. No Facebook, ela tinha jurado lealdade ao Estado Islâmico"


Por: Duda Teixeira

"O americano Syed Rizwan Farook, filho de paquistaneses, era uma pessoa reservada. Parecia satisfeito com o salário de 10 000 reais que ganhava como inspetor sanitário, conferindo as condições de higiene dos restaurantes e a quantidade de cloro das piscinas. Muçulmano que rezava duas vezes por dia em uma mesquita, raramente falava sobre religião. Seu assunto preferido era automóvel. Em um site de relacionamentos, ele se identificou como 'religioso, mas moderado'. Também dizia gostar de praticar tiro com as irmãs mais novas e os amigos no quintal. Foi por meio da internet que conheceu a esposa, a paquistanesa Tashfeen Malik, com quem se casou na Arábia Saudita em agosto do ano passado. Os dois moravam em uma casa confortável e, segundo amigos, aproveitavam o melhor do 'sonho americano'. Há poucos meses, Farook deixou a barba crescer. De acordo com relatos, ele também teria mantido discussões com alguns colegas de trabalho. O judeu messiânico Nicholas Thalassinos, inspetor sanitário como ele, disse-lhe que não concordava com a tese de que o Islã era uma religião pacífica. Farook teria respondido que ele não compreendia o islamismo."




"Na manhã da quarta-feira 2, Farook e a esposa deixaram a filha de 6 meses na casa da avó e alegaram ter uma consulta com um médico. Ele foi para a festa de Natal da empresa, mas saiu do local abruptamente e largou o paletó na cadeira. Em seguida, voltou com Tashfeen usando máscara e roupas especiais. Estavam armados com dois rifles calibre .223 e pistolas. Dentro do salão, eles deram entre 65 e 75 tiros. Catorze pessoas morreram, incluindo o colega Thalassinos. Vinte e uma ficaram feridas. O cenário encontrado por um dos primeiros policiais que entraram no local era marcado pelo cheiro de pólvora, pela lamúria dos feridos, por sangue, som do alarme de incêndio, borrifadores de água ligados e pela decoração de Natal das mesas. O casal fugiu em um carro e morreu horas depois em uma troca de tiros com policiais. Antes disso, Tashfeen postou no Facebook uma mensagem em que prometia fidelidade ao autointitulado califa Abu Bakr Bagdadi, líder do Estado Islâmico (EI), o grupo terrorista que domina regiões no Iraque e na Síria. Ela não teria usado a própria conta, mas outra com um nome diferente.
Sem evidências que indiquem que o EI tenha coordenado o ataque, o mais provável é que a dupla se enquadre na categoria de lobos solitários. Assim são conhecidas as pessoas que se radicalizam por conta própria, geralmente assistindo a filmes na internet ou conversando on-line com radicais. Farook manteve contato por telefone e pela internet com algumas pessoas investigadas por terrorismo. Duas viagens que ele fez para a Arábia Saudita serão estudadas. Ainda que a monarquia desse país faça parte dos bombardeios contra o EI e tenha treinado rebeldes sunitas para combater o grupo, há uma grande rede de apoio em seu território. Sauditas milionários já fizeram doações ao EI e pelo menos 2 500 ingressaram nas fileiras dos terroristas. Ao longo de meses, Farook e a mulher acumularam um robusto arsenal dentro de casa. Eles tinham mais de 3 000 munições guardadas, doze bombas caseiras e material para produzir mais. Os achados levaram os promotores a pensar que eles planejavam mais mortes. Todos os aparelhos com memória digital foram destruídos e o computador foi encontrado sem disco rígido. Dois celulares foram encontrados quebrados numa lata de lixo perto de uma das cenas do crime e serão reconstruídos em busca de pistas."


"Desde que assumiu a Presidência, Barack Obama foi a público mais de quinze vezes discursar a favor da restrição à compra de armas. O assunto voltou à tona nos últimos dias. Em Paris, no fim de novembro, o secretário de Imprensa da Casa Branca, Josh Earnest, deu uma declaração após os atentados do EI que mataram 130 inocentes. 'Se o governo americano determinou que é muito perigoso você embarcar em um avião, então você não deve estar apto a comprar uma arma', disse Earnest. O drama em San Bernardino aconteceu dois dias depois da declaração. Todas as quatro armas usadas pelo casal Farook e Tashfeen foram adquiridas de forma legal. Não há por que acreditar, porém, que eles não teriam cometido o crime se uma legislação mais dura estivesse em vigor. 'Episódios como o de San Bernardino são quase sempre planejados com muita antecedência. Como há um mercado negro de drogas e de armas muito ativo nos Estados Unidos, eles teriam conseguido o que quisessem de qualquer jeito', diz o americano David Kopel, professor de direito da Universidade de Denver e autor do livro A Verdade sobre o Controle de Armas (em tradução livre para o português)."


"Há cerca de 300 milhões de armas de fogo nos Estados Unidos, quase uma para cada cidadão. Apesar disso, os índices sobre vítimas de disparos fatais caíram pela metade nas últimas duas décadas. O aumento do policiamento, o uso de computadores para mapear o crime, a extensa base de dados que pesquisa o histórico das pessoas e avisa quem tem ou não condições de adquirir uma arma e a redução no consumo de álcool fazem parte da explicação. As vítimas de terrorismo nos Estados Unidos representam apenas 0,27% dos mortos com armas de fogo nos últimos dez anos. O esforço para evitar outros ataques inclui a vigilância constante dos cidadãos e o combate frontal dos grupos terroristas. São duas coisas que os Estados Unidos têm feito melhor do que qualquer outro país. Detectar a tempo um casal feliz que decide estocar armas em casa e matar seus colegas é algo mais complicado de fazer."

COM REPORTAGEM DE PAULA PAULI


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - edição 2 455 - Ano 48 - nº 49, págs. 102, 103 e 104. 09 de dezembro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


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